ONBOARDING NA PANDEMIA: INTEGRAÇÃO VIRTUAL E A REALIDADE SEM CRACHÁ NO NOVO HOME SWEET OFFICE

Até mesmo os profissionais mais experientes, que já atravessaram diversas crises, estão sendo convidados a se reinventar. Antonio Salvador, que esteve à frente do RH de companhias como HP e GPA, é um deles. Recém-chegado à Mercer Brasil, está vivenciando o onboarding na pandemia. Sem perder o humor, ele fala sobre os aprendizados dessa integração virtual e dos desafios que virão por aí.

Por Thaís Aiello, 27.07.20

Panorama Executivo – Salvador, você teve seu primeiro dia de trabalho na Mercer durante a pandemia, exatamente em home office. Muito diferente de outras vezes em que você começou, não?

Antonio Salvador – Completamente. Já vínhamos conversando há um bom tempo. Iniciamos nossa conversa em novembro e tivemos alguns encontros presenciais. Como a empresa é global, também fiz várias videoconferências, com gente que estava fora, no México, em Singapura. Então, já comecei a interagir com muita gente remotamente, mas com o meu chefe, o presidente da Mercer no Brasil, e a diretora de RH, tivemos reuniões presenciais. Eu fui ao escritório umas duas ou três vezes. Aí veio março e as nossas conversas deram uma rareada.

Panorama Executivo – Porque ninguém sabia muito o que iria acontecer…

Antonio Salvador – E a gente voltou a conversar em final de maio, começo de junho, até que chegamos a um acordo e eu comecei o processo de integração de executivos, o primeiro que eles trazem assim do mercado, então estamos aprendendo muito juntos. Para o meu onboarding, eles prepararam bastante informação. Estou me conectando com muita gente, do mundo inteiro, mas eu não tenho crachá! E nem sei se vou ter crachá! Em uma situação normal, eu talvez chamasse algumas pessoas para tomar café, aqueles com quem eu vou trabalhar mais de perto, os que reportam para mim. Mas, agora, não tem como chamar para tomar um café. Então, antes de começar, acabei marcando várias reuniões por Zoom, para me apresentar, bater um papo. Usualmente, como já aconteceu em outras companhias, o começo é cansativo, porque é muita informação. Principalmente em uma função executiva, que traz o desafio do tanto de informações você consegue assimilar e quanto mais pronto você está para poder influenciar. Quando você entra, no dia 1 já tem cobrança, até mesmo sua. É natural, pois faz parte da função executiva. Está sendo uma experiência interessante. Estou me reinventando.

“A cultura corporativa não está escrita na parede. Ela está nas pessoas.”

Panorama Executivo – E você, um executivo tão experiente, que já teve outros começos e outros primeiros dias, que preparou o primeiro dia de muita gente, em especial as pessoas muito estratégicas, como está avaliando o que estamos vivendo? Quais as perspectivas que surgem a partir de agora?

Antonio Salvador – Nós somos seres relacionais e gostamos de ter relações com outras pessoas. Creio que a emoção da primeira vez que entrei no prédio da HP, da primeira vez que conheci a garagem da HP em Palo Alto, o lado emocional do “puxa, então é aqui o prédio da Mercer, esse aspecto do pertencimento não há. Por outro lado, você acaba entrando um pouco mais na vida das pessoas, porque está todo mundo vivendo o problema. Então, tem gente do meu time que eu já conheci o filho, conheci a casa. Você começa a ingressar no cotidiano do outro. As pessoas estão com os filhos estão casa. Tem um profissional do meu time que eu já conheci o filho dele, e provavelmente isso não aconteceria se eu tivesse encontrado com ele no escritório. Talvez isso fosse demorar muito tempo.

Panorama Executivo – Salvador, como fica a questão da cultura corporativa, do pertencimento? Aí tem também um desafio, não? Como fica a situação quando as pessoas forem chegando?

Antonio Salvador – Cultura corporativa, de novo, são as pessoas. Ela não está escrita na parede, não é onde você está. Eventualmente o local pode dar sinais da cultura, mas no fundo, no fundo, são as pessoas. A cultura corporativa você pega falando com dois ou três. Então, você entende se é uma cultura mais meritocrática, mais associativa, se é uma cultura que estimula o compartilhamento. Isso você já pega numa conversa com alguém, na forma como a pessoa se porta nos processos. Do ponto de vista de você entender a cultura, o que funciona, eu acho que tem um lado que, independentemente de você estar usando uma tecnologia ou não, você pega. Eu já peguei a cultura corporativa da Mercer, já entendi. Acabei de falar com vários executivos, fui nos detalhes, é isso é isso, é aquilo. Eu já peguei.

“Não dá para voltar ao que era. A resiliência tem de ser entendida agora como adaptabilidade.”

Panorama Executivo – E você acredita que ainda dá para recuperar 2020?

Antonio Salvador – Eu acho que não. Hoje eu vi um meme engraçado: o último primeiro tempo tão ruim quanto esse foi no jogo da Alemanha, e já estava 5 a 0 para a Alemanha!

Panorama Executivo –É verdade.

Antonio Salvador – Comparando que este primeiro semestre foi pior que os 5 a 0 para a Alemanha no primeiro tempo. Eu acho que não tem como recuperar desta crise de 2020. Não dá para falar em resiliência no sentido de voltar ao que era. O conceito de resiliência que a gente tem de usar agora é no sentido de adaptabilidade, de como a gente se adapta a essas novas condições. Como, por exemplo, uma empresa de consultoria se adapta a prestar o serviço. Os workshops e projetos estão todos sendo conduzidos por Zoom. Nós não estamos visitando os clientes, então, como é que você se conecta com os clientes, entende a realidade. Daqui para frente, neste segundo semestre, todas as empresas vão ter que começar a olhar qual é o seu novo formato de negócio, como vai ser mais resiliente daqui para frente, qual vai ser o trade-off entre resiliência e eficiência. Recuperar o que perdeu não dá. Acabou, perdeu. Eu tenho que ver como é que eu construo daqui para frente, e olhando o mundo que está vindo por aí, tentando entender e sabendo que ninguém tem bola de cristal. Vamos ver se tem uma vacina, se a gente volta. Eu imagino que isso vai deixar algum legado. Eu espero isso, espero que a gente não desperdice essa crise, que a gente aprenda e saia melhor.

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