“Há alguns anos convivo com uma situação de assédio, sem muitas alternativas para me prevenir do ambiente tóxico. Trabalho em uma autarquia, e a possibilidade de mudança de unidade não se dá de forma trivial. Houve um tempo de maior normalidade, mas o jogo de poder e a manobra política mudaram drasticamente o contexto. De início, o assédio aconteceu com minha superiora, que acabou afastada. Então, a estrutura foi sendo contaminada pelo estilo de uma direção burocrática, centralizadora e muito hierárquica. Num ambiente de conchavos, muitos se amoldaram, fazendo o que o chefe manda. Aos demais, o tratamento dado foi o isolamento e o desrespeito. Na toada da liderança, os cooptados distratavam as pessoas, viravam a cara, davam respostas enviesadas. Instaurou-se um clima de muita pressão, total desconfiança e nenhuma colaboração. Nessas circunstâncias, acabei adoecendo. Tinha febre, alergia e outros problemas, pois meu sistema imunológico ficou comprometido. Cheguei mesmo a fazer avaliação psiquiátrica e, algumas vezes, fui colocada em licença-médica. Numa dessas ocasiões, houve a tentativa de me tirar o cargo e me designar para uma posição inferior. Recorri ao RH e, felizmente, essa manobra não se efetivou. A pandemia arrefeceu um pouco o assédio, ainda que ele persista. Uma faceta cruel é a insinuação de que home office é tranquilo, semelhante a um período de férias. Sim, porque a direção nos trata como se não estivéssemos de fato trabalhando remotamente. Tudo isso é muito duro, mas não compartilhar o mesmo ambiente físico ameniza o sentimento de opressão. Agora, um receio enorme toma conta de mim: é o retorno às atividades presenciais, o que muito me angustia.”
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