CULTURA ORGANIZACIONAL: OS DESAFIOS DAS LIDERANÇAS PARA PROMOVER – E INFLUENCIAR – O ALINHAMENTO INTERNO

Quando a cultura organizacional tem viés imediatista, o alinhamento e desempenho sustentável ficam comprometidos

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Malena Martelli: cultura organizacional imediatista afeta alinhamento interno

Por Thaís Aiello, 15/06/18

Com o mundo em rápida e constante evolução, rever conceitos e atualizar a cultura organizacional é um exercício premente. Antecipar-se às mudanças passou a ser mantra para as organizações empenhadas em atuar proativamente para garantir sua permanência no mercado. Diante de transformações tão profundas na sociedade e na maneira de fazer e conduzir os negócios, surgem diversos questionamentos. O que as organizações devem fazer para preservar sua saúde e competitividade? Como manter a cultura organizacional azeitada para garantir o desempenho sustentável? E as lideranças, estão preparadas para transcodificar elementos da cultura e garantir o alinhamento interno?

Instigada por indagações do gênero, Malena Martelli desenvolveu seu mestrado profissional stricto sensu na Fundação Instituto de Administração (FIA). A relevância da cultura organizacional no alinhamento interno e sua relação com o desempenho sustentável: um estudo de caso sob a ótica da liderança é o título da dissertação. Sob a orientação da Profa. Dra. Marisa Éboli, a autora desenvolveu otrabalho durante o exercício da vice-presidência de RH da Schneider Electric. A íntegra do estudo está disponível no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes.

Panorama Executivo –  Quais as motivações que a levaram a estudar o tema em questão e em que medida ele é relevante no momento atual?

Malena Martelli – O tema cultura organizacional é vasto e complexo. Dessa forma, optei por fazer um recorte para tratar a questão do alinhamento interno e sua relação com o desempenho sustentável. trata-se de tema da maior importância para a sobrevivência das empresas na era digital. Ao longo da minha trajetória profissional, percebi que a falta de alinhamento interno nas organizações é uma barreira a transpor. Isso porque dificulta o estabelecimento de um ambiente corporativo que propicie a inovação e o desempenho sustentável. Garantir o alinhamento como um diferencial competitivo é um desafio, especialmente para as lideranças de grandes companhias ou organizações matriciais.

Panorama Executivo – Mesmo que a organização comunique suas diretrizes estratégicas sobre cultura e desempenho sustentável, você acredita que os gestores entendem seu verdadeiro papel nesse processo?

Malena Martelli –  Para uma constatação científica, penso em ampliar a pesquisa para uma amostragem mais abrangente. Todavia, posso compartilhar minha visão com base na experiência e no relacionamento com vários profissionais de RH e executivos de outras empresas. A liderança, em geral, tem um entendimento limitado sobre o impacto da cultura na organização. O gestor tem noção sobre as diferenças culturais entre os países e reconhece a importância da cultura em situações de mudança ou em um processo de transformação. Porém, acredito que os líderes, em sua grande maioria, não têm clareza de seu impacto e do papel que exercem nos processos de criação, mudança ou manutenção de uma cultura organizacional, nem compreendem, de forma pragmática, como podem favorecer ou dificultar o alinhamento interno.

“Uma liderança alinhada compartilha propósito e metas, criando um ambiente de confiança”

Panorama Executivo – O que você identificou de mais significativo, atualmente nas empresas, na relação desempenho sustentável e cultura organizacional?

Malena Martelli –  Na pesquisa, recorri aos preceitos do triple botton line para definir o desempenho sustentável, apoiando a análise nos três alicerces desse conceito – desempenho financeiro, social e ambiental. Mesmo o estudo tendo envolvido uma empresa com foco em sustentabilidade, foi possível verificar que alguns líderes privilegiam o pilar ambiental quando se trata de desempenho sustentável. Uma constatação importante é que, para se atingir resultados sustentáveis, a liderança deve atuar de forma a criar uma cultura orientada a esse fim. Há ações concretas nas atividades dos líderes capazes de favorecer ou, então, de criar barreiras para o desempenho sustentável. Por exemplo, uma liderança alinhada, que busca resultados não apenas no curto prazo, precisa compartilhar propósito, objetivo e metas, criando um ambiente de confiança. Embora isso pareça óbvio e para que não fique apenas no discurso, o líder precisa entender os diferentes níveis de cultura, correlacioná-los com os temas do dia a dia e passar a atuar para que os objetivos sejam atingidos. É fundamental que ele tenha uma postura protagonista neste processo. Muitas vezes, a busca por resultados sustentáveis requer renúncias no atingimento de resultados financeiros a curto prazo. Quando a cultura organizacional é mais imediatista e ignora essa dinâmica, o desempenho sustentável fica comprometido.

Panorama Executivo – Como relaciona sua dissertação às tendências e às expectativas para o futuro do trabalho?

Malena Martelli – Dispor de uma cultura voltada ao desempenho sustentável é condição necessária para que as empresas se mantenham competitivas. Nessa medida, as organizações precisam se adequar à realidade e às novas demandas, promovendo transformações que levem em conta as expectativas de seus diferentes públicos de interesse – clientes, consumidores, colaboradores, fornecedores e parceiros. Para exemplificar, consideremos os drivers de engajamento dos profissionais de hoje em dia. O engajamento começa com um propósito organizacional do qual o colaborador efetivamente compartilhe, passa pela relação estabelecida com a liderança e é impactado por questões como aprendizado contínuo, bem-estar e oportunidades de carreira. Vale considerar também os desafios de alinhamento e engajamento de uma força de trabalho que passa a ser regida sob diferentes formas de relação empregatícia, desde os contratos formais, via CLT, até outros modos de vinculação.

Panorama Executivo – Os temas inovação e transformação ganham espaço na agenda corporativa. De que forma essas vertentes são consideradas em sua dissertação?

Malena Martelli – Existe um espaço enorme para estabelecer a relação existente entre os traços culturais corporativos e a capacidade que a empresa tem de inovar. Os ambientes inovadores exigem certos comportamentos das lideranças que diferem substancialmente do que normalmente é adotado, em especial no que tange a países como o Brasil, onde é comum a valorização da hierarquia. Quanto à transformação digital, não tenho dúvidas sobre a necessidade de mudar o mind set dos profissionais, abrindo espaço para mudanças imprescindíveis às sobrevivências das organizações. É preciso, antes de tudo, compreender de que forma a cultura organizacional pode contribuir e favorecer o processo. Caso contrário, a jornada certamente será muito mais árdua.

Veja também: Carreira sustentável e capacidade de reinvenção, com Karin Parodi, CEO da Career Center

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