Brasileiros Pelo Mundo – Como surgiu a ideia de enveredar por uma carreira internacional?
Juliana Macedo – Sempre tive visão de futuro, mirando lá adiante. Fiz a gestão da minha carreira de modo a sair lá da minha cidade, no interior de Goiás. Queria atuar onde o mercado pulsa de forma mais vibrante, que é em São Paulo. Desde a faculdade, foi me aprimorando em línguas estrangeiras. Cheguei a trabalhar em uma escola de inglês para ter acesso ao curso. De olho no Mercosul, também estudei espanhol. Fui então trabalhar em uma companhia francesa, à frente do RH. Havia um programa voltado ao desenvolvimento das mulheres, com foco em internacionalização. Contudo, mudanças de mercado e no negócio acabaram afetando a viabilidade do projeto..
BPM – E com isso seus planos ficaram em suspenso?
Juliana Macedo – Não exatamente. Claro, naquele momento fiquei bem decepcionada. Aquele refluxo funcionou como um balde de água fria para meus planos, mas aí eu pensei: não vou desistir! Então, resolvi trilhar o caminho por conta própria e, para tanto, pedi demissão. Acredito que a minha coragem está ligada ao meu sonho e objetivos, que são maiores que o medo. Coloquei a mochila nas costas e aprimorar o inglês na Inglaterra, na universidade de Oxford. Em seguida, fui para Salamanca, na Espanha, dar um upgrade no espanhol. Tudo isso por conta própria. peguei minha rescisão e investi em mim. Claro, me planejei, pensando no meu retorno ao mercado de trabalho.
BPM – E como isso se deu?
Juliana Macedo – Ainda lá fora, prestes a voltar, comecei a contatar os headhunters, acionar meu network, informando que eu estava voltando. Nisso, já em São Paulo, recebo a ligação de um headhunter francês para uma posição de RH em uma multinacional. No caso, era a Total, maior empresa francesa e a 4ª petroleira do mundo. Ainda que no Brasil a operação ainda fosse pequena, era a porta de entrada para um ambiente internacional. Fui entrevistada numa mesa redonda. em três idiomas. Era meu dia e a vaga era para mim. Ingressar na Total foi um grande marco na minha vida, pois me deu experiência, formação e visibilidade internacional.
BPM – E como foi este desafio?
Juliana Macedo – Ingressei à frente de recursos humanos, e as responsabilidades foram crescendo. Além do RH,agreguei a área de comunicação interna, e respondia também por administração e serviços. Passei a ser identificada como high potential, integrando um programa voltado a profissionais de alta performance e perfil internacional. Para chegar a essa caixinha, a pessoa tem de ter comprovado desempenho e precisa dispor de competências e habilidades que validam sua presença nessa lista. Este pool de talentos recebe formação diferenciada e exposição internacional, e o grande desafio quando você ingressa nesse rol é não sair dele.
BPM – Então, aí se abriram os caminhos para sua carreira internacional?
Juliana Macedo – Sim, e em uma avaliação anual, meu líder foi direto ao me questionar se eu efetivamente tinha interesse em uma posição fora do país. Ele precisava saber para me indicar ao comitê diretor e, a partir daí, iniciar o trabalho de abrir possibilidades para essa experiência. Foi assim que começaram a surgir oportunidades de relacionamentos com gestores de carreira da companhia e entrevistas para posições fora do Brasil. O processo culmino com minha expatriação para Paris, responsável pela gestão da mobilidade internacional da divisão de energias renováveis.
BPM – No caso, é uma expatriada cuidando de expatriados??
Juliana Macedo – Verdade. Cuido de todos os que são designados para trabalhar no território francês, bem como daqueles que saem da frança para atuar em um dos 39 países onde estamos presentes. E, quando cheguei a Paris, logo me dei conta de que precisava me aprimorar no idioma local. Eu lia e compreendia o francês, mas, para interagir com as pessoas, era preciso maior fluência.
BPM – O idioma é mesmo um fator crítico para atuar internacionalmente?
Juliana Macedo – Sem dúvida. Nos três primeiros meses me comuniquei com a equipe em inglês, mas logo percebi que, para fazer a gestão do time, era fundamental falar o idioma. Até porque a língua é a chave para compreender a cultura. Ao se expressar no idioma local, você é aceita e inserida na sociedade. Isso permite uma experiência completa e mais intensa. E há alguns aprendizados bem interessantes, como saber interpretar algumas posturas.
BPM – Você poderia dar um exemplo concreto nesse sentido?
Juliana Macedo – Aqui na França, em determinadas circunstâncias, é muito comum você solicitar algo a uma pessoa e receber como resposta um sonoro “Ce n’est pas possible Je suis désolé”. Ao receber esse retorno, que era um retumbante “sinto muito, não posso ajudá-lo”, eu recuava. Depois de um tempo e com a ajuda de um curso sobre a cultura francesa, eu compreendi a dinâmica envolvida nessa postura e as diferenças entre a forma como agimos no Brasil. O brasileiro está acostumado a dizer sim. Tudo a gente diz sim. Já o francês, ao se recusar, ele espera que seu interlocutor argumente quanto à necessidade da ajuda. Na verdade, é uma forma de começar uma relação, o que eu não entendia porque, com as minhas lentes na perspectiva brasileira, eu me magoava.
BPM – e como você virou a chave?
Juliana Macedo – Tive a ajuda da coach que ministrou o curso. Ela me ajudou a diferenciar o que eram questões minhas dos aspectos que tinha a ver com a cultura. Os seis primeiros meses são um grande teste, com várias situações colocando á prova sua resiliência. Você tem dificuldade para fazer as compras do supermercado, para adquirir seus móveis e mais uma série de coisas cotidianas. é a prova dos nove para ver se você resiste, e aí, falar o idioma faz toda a diferença.