Haverá cada vez mais trabalho e menos emprego, o que exige reinvenção para garantir uma carreira sustentável
Karin Parodi: carreira sustentável exige disposição para aprender sempre
Por Thaís Aiello, 14/05/18
Dizem que as crises são cíclicas, porém, os ciclos parecem ter ficado mais curtos, e as incertezas, cada vez mais presentes e duradouras. Não bastassem os problemas domésticos de um Brasil em crise, há que se lidar com as questões do mundo globalizado e também da nova ordem digital decorrente dos avanços tecnológicos. A previsibilidade da lógica linear deu lugar ao pensamento disruptivo, e isso vem ocasionando mudanças de toda sorte, que afetam o modo de viver, de interagir e de fazer negócios. E a gestão da carreira, como fica diante de tantas mudanças? Karin Parodi, presidente do conselho da WAVE e CEO da Career Center, opina a esse respeito em entrevista exclusiva ao Panorama Executivo.
Panorama Executivo – Crise é um elemento típico dos tempos atuais? Como lidar com a realidade de incertezas?
Karin Parodi – O mundo está em franca e acelerada transformação. No Brasil, com a crise que se arrasta, a questão ganha contornos ainda mais complexos. No âmbito dos negócios, há uma tendência global de revisão das estruturas organizacionais em busca de maior produtividade, menos hierarquia, mais trabalho em rede e ganhos de agilidade nas tomadas de decisão. A juniorização é também uma realidade, até por conta do viés salarial dos profissionais seniores. Estamos diante de mudanças profundas, inscritas em uma dimensão para além do incremental. Elas são, de fato, transformacionais. O desafio para todo e qualquer profissional está no alinhamento a esse mundo disruptivo, com olhar de inovação e abertura para a busca de um novo perfil.
“As mudanças não são incrementais, mas transformacionais”
Panorama Executivo – No Brasil, a economia começa a dar sinais de recuperação. Como você avalia o cenário atual?
Karin Parodi – O saldo de profissionais disponíveis no mercado ainda é elevado. De fato, verifica-se alguma recuperação da economia e um movimento de abertura de posições, com as empresas iniciando a busca de reforços para ajudar suas equipes, que vinham muito enxutas e sobrecarregadas. Agora, em meio à essa população que ficou sem emprego, muitas pessoas estão despreparadas para as demandas de hoje e do futuro. Em um mercado cada vez mais competitivo, manter-se atualizado é uma questão fundamental.
Panorama Executivo – A obsolescência diz respeito especificamente a determinadas faixas etárias? Trata-se de uma problemática geracional?
Karin Parodi – Não exatamente. Eu diria que o fenômeno é transversal, ainda que as novas gerações contem com a vantagem de já haver nascido com mindset digital, dentro de uma concepção de mundo mais fluida e menos piramidal e hierárquica. De toda forma, não é algo taxativo, até porque observamos também Baby Boomers que têm respondido bem às demandas desse universo em transformação. Cada vez mais o trabalho será em rede, requerendo empatia e espírito de colaboração – e, nesse sentido, quando as gerações conseguem trabalhar conjuntamente, reunindo esforços, os ganhos são da maior relevância e se refletem positivamente para todos os envolvidos.
“Haverá cada vez mais trabalho e menos emprego”
Panorama Executivo – Quais são as perspectivas do mundo do trabalho a curto e a longo prazo?
Karin Parodi – Muitos empregos estão sumindo, enquanto outras tantas ocupações têm surgido. O fato é que haverá cada vez mais trabalho e, por outro lado, menos emprego, na acepção mais formal do conceito. Reinventar-se, portanto, é uma atitude bem-vinda, porque a abertura para o novo se faz necessária. Claro que esse é um movimento que demanda resiliência, ainda mais em um mercado que tende a se tornar cada vez mais competitivo. Diante da escassez de emprego, é preciso avaliar como endereçar as habilidades e as competências, de modo a transformar esse conjunto de características em uma atividade produtiva, preocupando-se menos com a obtenção de emprego e mais com a conquista de um trabalho rentável e prazeroso.
Panorama Executivo – Como encarar, de forma prática, as rápidas transformações e não deixar passar as oportunidades?
Karin Parodi – Buscar atualização, ampliar conhecimentos, fazer cursos, intensificar a leitura, frequentar centros de inovação, tudo isso é de suma importância, assim como a disposição e a abertura para o novo e para a mudança de mentalidade. Há carência de profissionais com esse drive de inovação, e as empresas estão valorizando esse aspecto e investindo para desenvolver suas pessoas nesta direção. Cabe ao indivíduo, no entanto, fazer a sua parte, realizando o startup de si mesmo, na perspectiva de aprender continuamente. Os tempos são de lifelong learning, o exercício de aprender e reaprender o tempo todo, a vida inteira.