Trabalho e maternidade: como conciliar papéis com equilíbrio

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Cristina Aiach Weiss: maternidade e trabalho, a busca do equilíbrio

A arte de conciliar trabalho e maternidade está em Mamãe dá Trabalho, livro de autoria da executiva Cristina Aiach e de sua filha, Valentina

Por Thaís Aiello, 18.11.18

Conciliar trabalho e maternidade é um grande desafio, ninguém duvida. Culpa é o sentimento mais frequente quando esse tema vem à tona, especialmente para profissionais que estão nos postos mais altos. O ritmo é frenético: viagens, call conferences, reuniões e mais reuniões, e um celular que não dá descanso. Sem contar os inúmeros e-mails para responder e a grande responsabilidade sobre os ombros.

Como encarar trabalho e maternidade com mais leveza, buscando exercer as diferentes dimensões na vida de forma mais plena e com menos culpa?

Cristina Aiach Weiss, diretora regional de RH da Swiss Re, deu uma boa resposta a essa pergunta. Em meio à sua atribulada rotina, encontrou tempo para a sensível iniciativa de escrever um livro sobre sua experiência com trabalho e maternidade. Na obra, Cris compartilha a forma que encontrou para conciliar os papéis de mãe, mulher e executiva. Nessa empreitada, sua principal interlocutora foi a filha Valentina, de 10 anos de idade.

Não se trata de obra teórica ou conceitual. É sim um diálogo franco com outras mães e outros filhos de profissionais que enfrentam o desafio de equilibrar os vários papéis na vida. Cris Aiach, que ao longo de 25 anos desenvolveu trajetória em empresas como Deutsche, Merrill Lynch, ING Bank e Hospital Albert Einstein, conversou com o Panorama Executivo sobre trabalho e maternidade.

Panorama Executivo – Como as mulheres têm vivenciado o dilema de harmonizar projetos de vida e carreira?

Cris Aiach – Você já deve ter visto aquele desenho da roda da vida, com as diversas dimensões que precisam ser contempladas para dar harmonia à nossa existência. Um exercício interessante está na reflexão de que, em uma escala de zero a 10, é impraticável obter a nota máxima em todas as frentes ao mesmo tempo. Veja o caso de uma promoção no trabalho. Certamente, a condição requer maior dedicação para que a pessoa tenha como dar conta do novo desafio. É numa circunstância como essa que, muito provavelmente, o aspecto social da roda da vida fique prejudicado.

Panorama Executivo – E o que dizer, mais precisamente, quanto a conciliar trabalho e maternidade?

Cris Aiach – Quando do nascimento de um filho, a energia fica concentrada no campo familiar. Consequentemente, as demais dimensões acabam ocupando outros espaços na escala de importância. O fato é que o gráfico da roda da vida adquire contornos distintos a cada fase. Ter consciência dessa dinâmica, aceitando que esse descompasso é natural e humano, faz parte da conquista da maturidade.

Panorama Executivo – Mas há mulheres que insistem em tirar nota 10 em tudo…

Cris Aiach – Não acredito no discurso “eu faço tudo bem, estou em todos os lugares ao mesmo tempo”. Do meu ponto de vista, toda história de vida passa por fases, com avanços, recuos e aprendizados que vão dando consistência e coerência à trajetória. Cada escolha representa igualmente uma renúncia, e isso se dá também quando uma mulher opta pela maternidade. É complexa a tarefa de equilibrar a responsabilidade com o trabalho, em especial numa posição executiva, com a missão e o tempo necessário para educar uma vida.

“Para entender e acolher o outro, antes é preciso  compreender e acolher seu próprio momento de vida”

Panorama Executivo – Como se deu a maternidade em sua vida?

Cris Aiach – O trabalho sempre foi algo muito importante para mim. Em determinado momento, no entanto, senti a necessidade de fazer um sabático. Paralelamente, havia também a questão do relógio biológico. Quando engravidei, fiz a escolha de renunciar ao ato contínuo do trabalho. Não sentia disposição interna para conciliar os dois projetos. Respeito muito as mulheres que conseguem harmonizar a gravidez com a atividade profissional, e muitas delas sequer têm a opção de fazer diferente. Na gravidez, há uma energia física dedicada à criação de uma vida dentro de você. Ter a consciência de que seu passo vai ficar mais lento, sem se cobrar demais, é muito importante.

Cristina Aiach_Video_Trabalho e MaternidadePanorama Executivo – Na verdade, você está falando na necessidade da mulher também se acolher?

Cris Aiach – Com certeza. Para que você possa entender e acolher o outro, antes de tudo precisa compreender e acolher seu próprio momento de vida. Acredite, isso é libertador. Além de pressupor renúncias, toda escolha precisa ser sustentada com consciência e gratidão. Uma armadilha que a sociedade nos impõe é de sermos multitarefa, passíveis de fazer várias escolhas ao mesmo tempo. A roda da vida traz, de fato, várias questões – família, casa, amigos, pais envelhecendo, trabalho, etc. Há, contudo, uma temperança, um equilíbrio a ser alcançado. Isso demanda acolhimento e sabedoria.

Panorama Executivo – Independentemente de gênero, não haveria hoje certa demanda por esse lado multitarefa?

Cris Aiach – Essa é uma competência disponível no ser humano, presente também em muitos homens. O que destaco é o fato de a mulher ter o dom da multitarefa, algo intrínseco à natureza feminina. A capacidade de gerar uma vida dentro de si é transformadora. Ao engravidar, há uma vida crescendo no seu interior. Paralelamente, você continua realizando todas as suas tarefas, tocando sua existência. O feminino tem um lugar interessantíssimo no mundo e no trabalho. Não é preciso abrir mão da feminilidade e do lado sensível. Ao contrário, quando alia esses aspectos à resolutividade, a contribuição da mulher se torna ainda mais efetiva.

Panorama Executivo – Muitas mulheres acabam sendo preteridas por conta da maternidade. E há as que optam por deixar o mundo corporativo.

Cris Aiach –De fato, muitas mulheres escolhem, por conta própria, se retirar do mercado de trabalho. Eu mesma quase fiz essa opção. Fui e voltei, pois senti saudade de estar vinculada a projetos corporativos. Para certas pessoas, o preço a pagar é alto demais, pois a rotina é pesada e o controle sobre o tempo, limitado. Isso tem levado muitas empresas a adotarem políticas e modelos mais flexíveis de trabalho. Ainda que esse movimento venha crescendo, o sistema permanece requerendo profunda dedicação. Há metas a cumprir, e exige-se diligência, alta performance, eficiência e prontidão. E, na roda da vida, tudo isso compete em tempo e energia com as outras dimensões da existência. Trabalho, maternidade e vários outros dilemas permeiam o cotidiano, pressupondo novas e mais escolhas.

Veja também: Igualdade e inserção LGBT no mercado de trabalho, com Beatriz Sairafi, RH da Accenture

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